Cá estava eu repousado na minha alta cama, comprada aos custos de não ver por onde veio, lendo as memórias de algum autor reverenciado exaustivamente, quando interrompo minha leitura pelos versos a traduzir de um bom cantor folk que aflorava meu quarto. Devida a idade já avançada daqueles versos consegui por uma fração de segundos imaginar-me inundado no passado, 1900 e o que eu quiser ver.
Mas caí na bobagem de olhar para o lado e me deparar com meus aparates de conexão global, e vi que não estava mais nas décadas onde as coisas parecem mais simples ao discurso daqueles saudosistas, e até ao discurso daqueles que nem projetos ainda eram. De repente me forcei a ignorar computador, e tudo o mais que me ligava a esse século desprezível, como que sem entender imaginei meu quarto em preto e branco. Estranho, pensaria você meu leitor imaginário, mas eu digo que quem sabe as coisas não eram preto e branco? Quero dizer, qual seria a importância em saber diferenciar e sentir um dia ensolarado e um dia nublado? As cores estão aí, ao nosso redor e muitas vezes desprezamos.
Mergulho novamente na minha leitura, embarcado pela vontade de viver no tempo em que não me pertence, mas na minha consciência sei eu que essa ânsia de décadas passadas é só essa mania incontrolável de fugir de tudo que é seu, da sua realidade, é só essa mania suja de ignorar que você não será colocado em nenhuma prateleira. Olho pela janela e vejo que os urubus nada se importam com meus devaneios, mais uma vez sinto inveja, mais uma vez não quero ser eu.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
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