sexta-feira, 22 de julho de 2011

Do que já não é de se esperar

Limpo depois de um pouco de sujeira. Talvez pouco limpo. Olhar cansado, parado, sem expressão definida. Ele vê duas estradas turvas a sua frente. A sua vontade é de seguir se possível pelas duas, conhecê-las até o fim, ir e voltá-las, "mas quem disse que ele pode? A gente gasta o tempo? Ou o tempo não acaba nunca? Não pro mundo?" Ele pensou. Seus pés iam de lá pra cá sem tomar nenhuma decisão, verdade era que nenhuma decisão até ali na curta vida tinha sido sua. Ele preferia acreditar no que chamava de "acaso". Ele preferia esperar por ele, preferia porque achava que assim não teria que pensar, não teria que se esforçar.

Não demorou muito e as duas estradas foram se fechando, fundindo-se em una, mostrando tudo o que não deveriam mostrar, mostrando o que ele não deveria saber, "Sei demais sobre essas curvas pra conseguir me perder" dessa vez falou. Dessa estrada una, que julgava ele ser um fruto de acaso, surgiu uma figura calma, lenta, que caminhava na sua direção, os cabelos não eram tão longos, talvez pudessem ser curtos, ele não conseguia ver ao certo. Ela tinha uma expressão conhecida, que passava confiança, mas ao mesmo tempo medo, "afinal de contas a confiança não é nada mais que medo" ele pensou. Seus pés agora pareciam querer caminhar de encontro a ela, mas quanto mais caminhava mais a distância entre os dois crescia e mais angustiante aquilo iria se tornando. Ele sentou.

Olhou ao longe, já não era possível enxergar mulher alguma, não havia expressão confiante, nem cabelos regidos pelo vento, tudo que ele via eram seus pés sujos, suas mãos sujas e suadas, suas roupas velhas e desgastadas. Ele correra por horas. "Por que fiz isso?" ele se perguntou, mas não adiantava procurar por respostas, nada supriria a falta que ele não tinha. Tudo que ele precisava era do que ele exatamente não tinha. "Vocês não conseguem entender?" ele gritou ao nada, "Se eu preciso é porque não tenho, então não me mandem procurar dentro de mim mesmo, eu estou vazio, entenderam? vazio!". Ele olhou de novo ao horizonte, ela retornara, vacilante num caminhar em forma de dança, se baixou, o olhou, tentou tateá-lo, ele sentiu frio. Ela abriu a boca, quando ele iria finalmente ouví-la, tapou os ouvidos, não porque não quisesse ouví-la, mas porque saberia o que ela iria dizer, e não era melhor imaginar a voz dela dizendo outras coisas? Dizendo que tudo estava bem? Dizendo que ele tinha escolhido a esquerda ou a direita? "Tarde demais" ele se lamentou. Se virou. Quietou. O que chama de acaso, logo irá voltar, mas não espere que ele te abençoe ou te sirva com o melhor que possui.

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