quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O mapa está errado

Eu vi sua face hoje. Claro, no rosto de alguém, não no seu. Eu sei, é complicado. Ela me incomodou. Você provavelmente sorriria de mim e dessa comparação tão boba, mas inevitável. Vocês também viram isso? Quero dizer, vocês conseguem ver faces por onde quer que olhem? Acho que consigo com uma certa facilidade e talvez essa facilidade seja prejudicial quando uma face te lembra tantas coisas ou quem sabe te faz pensar em tanta coisa que pode ser que não seja memória, mas que você provavelmente queria que elas fossem. Aliás, se você fosse capaz de controlar as construções das suas memórias, você as faria todas boas? Ou todas ruins? Ou equilibradas? Ou tendenciosas? Eu não sei, é possível que não existam memórias boas ou ruins, apenas coisas que você quer ou não esquecer.

A face que eu vi era a sua face triste, que olhava pro chão e escondia os olhos de mim. Era aquela que eu tinha que afastar os obstáculos pra poder olhar melhor, era a face que te faz pensar que algo está longe ou não está ali ou aqui. Agora mesmo as minhas linhas deveriam estar direcionadas para outro lugar, infelizmente não é lá que eu quero estar, e nunca quis, mas tive que que estar e ainda terei que estar. Eu queria tanto passar mais tempo nessa praia chuvosa que é o meu quarto escuro. Eu posso ver a luz dos postes por entre as minhas grades, atravessarem as minhas paredes, nada romântico, mas real, eu sei. Aqui eu posso fechar os olhos e contornar meus pensamentos com as coisas mais inúteis possíveis, tais como imaginar a gota de chuva que se esconde nos seus cabelos.


"Não vá, você só vai querer voltar"

Você já reparou a quantidade de problemas que você adquire com o passar dos anos? O quanto seus pais estão ficando tão próximos de vocês? Eu sinto que nós humanos temos uma espécie de caminho único que todos seguem inevitavelmente, uma espécie de estrada em direção a algo, que nos puxa, e parece que eu estou sempre tentando fugir dele, pegando desvios, mas que as vezes se mostram atalhos pra onde todos estão indo. Eu tento fugir mais uma vez, mas em vão. Eu deveria fugir? Por que você não desse do seu castelo e me mostra onde eu devo ir? Por que você não... não apaga os nossos nomes, rabisca nossas faces e nos cria em alguma história bonita dos anos 80? Por que nós não estamos agora sujos e suados num quarto quente? Por que eu sinto que não está nada certo? Afinal de contas o que há de errado? Ok. Você cansou, tudo bem. Mas, hm, não desista assim fácil, tenho tanto a falar, ou melhor, a escrever... Leia. Sinta. Tente me dizer onde foi parar o seu mapa.

Um comentário:

  1. Gostei uma vez mais de ler os seus post.
    Particularmente este revejo-me do lado da gota de agua de chuva.

    Nao deixe de visitar e seguir o meu Blogue.

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