terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Onde sobreviveria até a morte

Se fosse possível entender tudo o que se passa, ele estaria agora consolidado numa vida normal, alimentaria seus cachorros, daria água às plantas, lavaria o carro, acordaria todos os dias na hora dos pássaros, veria o rio passar, ouviria as vozes que sempre desejou ouvir, não apenas ouvir, mas aquilo o que queria ouvir, não precisaria de energia elétrica, entretanto a usaria, estaria vestido com a roupa mais simples que encontrou, seus cabelos estariam onde sempre estiveram, suas pernas e braços não iriam doer, assim como sua consciência, iria aonde deveria ir, não refletiria além do necessário, estaria em casa, estaria onde quisesse, estaria.

Construir-ia um âmbito onde o deve ser estaria alinhado com o é, seus problemas estariam todos numa estante apenas esperando, não os afogariam, ele estaria repleto de calmaria, seu deus não seria distante, seu desejo não seria sufocante, poderia sentir todos os sentimentos, poderia poder morrer todos os dias, poderia saltar de todos os abismos abstratos, estaria onde o que um dia foi, se foi e onde o que um dia há de ser, será, não se importaria com vírgulas e pontos, muito menos com olhares e nem tão pouco com pensamentos, viveria despreocupado, poderia amar, sem saber o que significa a palavra, sem conhecê-la, sem pensá-la, sem sofrê-la, apenas poderia, da forma mais institiva possível, seria livre, viveria do que se há lá fora, seria de verdade animal.

Aquela com a voz doce, tocante e calma não o cobraria, ele a veria de longe, ele a absorveria, ele a entenderia, ele a tomaria pra si, ele não mais sentiria tantos medos, ele caçaria, ele sobreviveria todos os dias pra poder ser o que é, sem se importar, seria tudo apenas uma questão de ser, de não precisa ser, de não ter que seguir, de não ter que ter, seria tudo simples, natural como é, longe do que foi construído sob bases falsas, seria frio e quente, encontraria seu egocentrismo em unidade com sua companhia, olharia sua face e a tocaria, sentiria sua presença, saberia que tudo o que precisa, ali tem, que pessoas são mais importantes, que as respostas e nem as perguntas mais o incomodariam, saberia que tudo o que escreveu não teria importância de ser lido, avaliado, notado, ele seria vivo, seria ele, seria ela, seria puro, seria comum, seria conjunto, sombra e claridade, calmaria e agitação, voz e silêncio, o olhar e o enxergar.



Estrelas da noite se tornaram um pó profundo

2 comentários:

  1. Belíssimo texto! Tocante de verdade!

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    http://keyofthought.blogspot.com/
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  2. bicho eu gooosto muito desses textos, não canso de falar o quanto são enxutos, claros e simples.
    E esse em especial transparece por si só claridade e simplicidade de desejos ou pensamentos :) eu sou mt tua fã Fii :*

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