terça-feira, 26 de julho de 2011

Gelo

Será que é tarde demais? Você dormiu cedo hoje? Eu não faço ideia... Conto os poucos feixes de luz que roubei de você e eles não me contam nada. Odeio ter que um dia ouvir que justifiquei o velho ditado, quando na verdade era diferente, mas só iria parecer diferente pra mim. Seria bom você saber disso tudo, mas não é tarde demais? As luzes já estão todas apagadas. Como um dedo pode ser tão relutante assim.

Acho que é realmente tarde demais. Fechei minhas mãos pra tudo que eu não pude segurar junto, não me arrependo, não, não é de arrependimento que eu falo, eu falo daquilo que poderia acontecer agora. Toda escolha faz outra parecer extremamente correta. Porcaria. A "verdade" vai continuar mais uma vez comigo, enquanto você, pelo visto, permanecerá longe, longe demais. Eu sinto muito. Queria ser apenas uma pessoa o tempo inteiro. Não consegui. Não consigo. Você é cada vez mais bela a cada passo distante de mim. Talvez eu precise realmente aprender a apreciar o gelo antes que ele se derreta.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Do que já não é de se esperar

Limpo depois de um pouco de sujeira. Talvez pouco limpo. Olhar cansado, parado, sem expressão definida. Ele vê duas estradas turvas a sua frente. A sua vontade é de seguir se possível pelas duas, conhecê-las até o fim, ir e voltá-las, "mas quem disse que ele pode? A gente gasta o tempo? Ou o tempo não acaba nunca? Não pro mundo?" Ele pensou. Seus pés iam de lá pra cá sem tomar nenhuma decisão, verdade era que nenhuma decisão até ali na curta vida tinha sido sua. Ele preferia acreditar no que chamava de "acaso". Ele preferia esperar por ele, preferia porque achava que assim não teria que pensar, não teria que se esforçar.

Não demorou muito e as duas estradas foram se fechando, fundindo-se em una, mostrando tudo o que não deveriam mostrar, mostrando o que ele não deveria saber, "Sei demais sobre essas curvas pra conseguir me perder" dessa vez falou. Dessa estrada una, que julgava ele ser um fruto de acaso, surgiu uma figura calma, lenta, que caminhava na sua direção, os cabelos não eram tão longos, talvez pudessem ser curtos, ele não conseguia ver ao certo. Ela tinha uma expressão conhecida, que passava confiança, mas ao mesmo tempo medo, "afinal de contas a confiança não é nada mais que medo" ele pensou. Seus pés agora pareciam querer caminhar de encontro a ela, mas quanto mais caminhava mais a distância entre os dois crescia e mais angustiante aquilo iria se tornando. Ele sentou.

Olhou ao longe, já não era possível enxergar mulher alguma, não havia expressão confiante, nem cabelos regidos pelo vento, tudo que ele via eram seus pés sujos, suas mãos sujas e suadas, suas roupas velhas e desgastadas. Ele correra por horas. "Por que fiz isso?" ele se perguntou, mas não adiantava procurar por respostas, nada supriria a falta que ele não tinha. Tudo que ele precisava era do que ele exatamente não tinha. "Vocês não conseguem entender?" ele gritou ao nada, "Se eu preciso é porque não tenho, então não me mandem procurar dentro de mim mesmo, eu estou vazio, entenderam? vazio!". Ele olhou de novo ao horizonte, ela retornara, vacilante num caminhar em forma de dança, se baixou, o olhou, tentou tateá-lo, ele sentiu frio. Ela abriu a boca, quando ele iria finalmente ouví-la, tapou os ouvidos, não porque não quisesse ouví-la, mas porque saberia o que ela iria dizer, e não era melhor imaginar a voz dela dizendo outras coisas? Dizendo que tudo estava bem? Dizendo que ele tinha escolhido a esquerda ou a direita? "Tarde demais" ele se lamentou. Se virou. Quietou. O que chama de acaso, logo irá voltar, mas não espere que ele te abençoe ou te sirva com o melhor que possui.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Bicho

Nunca realmente imaginei como seria, mas nem realmente sei se é o que é, de qualquer forma, entre o pior e o melhor, sempre iremos escolher o pior. E com o tempo extra, diferente dos filmes, é claro, não vejo o que fazer, isto é, não prego os olhos, mas reviro na cama atrás dele, o sono, infinitamente, não consigo encontrá-lo. Na verdade, bem nem sei o que procuro, muito mais abro os olhos tentando encontrar um alvo difícil de encontrar e persegui-lo até onde eu me frustrar novamente. Meus olhos continuam abertos, eu poderia expressar isso de outra forma, mas só consigo aqui, me escondendo, sem saber realmente se consigo.

Nós temos duas opções de olhar as coisas, uma nós olhamos pra determinada coisa e simplesmente a simplificamos, não pensamos aonde ela nos irá levar, aonde não irá, não pensamos em mais nada, apenas no cru e sensível da situação. No outro olhar nós pensamos em tudo que foi mencionado, nós paramos e vemos que aquilo poderia nos levar a caminhos totalmente diferentes. Esses dois olhares permanecem se conflitando. Talvez o segundo não seja tão saudável, então o primeiro irá levar você até onde você se torna um cético na vida, crítico demais pra perceber que nem tudo se trata de estar perfeitamente adequado para você.

Minhas palavras são fracas, pobres, feias, cruas, não atraem. Eu estava prestes a escrever "me sinto" mas na verdade não sinto droga alguma. A verdade é que eu só não queria ter que ser, só queria virar bicho.

sábado, 9 de julho de 2011

O que poderia ser

Alguém tocou meu ombro hoje, me puxou de leve, não era estranho, mas não poderia chamar de um tão bem conhecido, alguém amigável. Me apontou, apontou ao céu, abri o som dos meus ouvidos pro mundo e segui a ponta do seu dedo que guiou meu olhar até a imagem da lua em eclipse, aparecendo aos poucos, se enchendo aos muitos. Senti uma vontade contrariada de me paralizar e admirá-la por quanto tempo eu pudesse continuar, mas verdade é que não pude, não porque realmente não poderia, mas porque no mundo onde eu vivo você não deve ficar parado, você deve andar, não, você deve correr, correr, corra garoto, corra, ou eles irão tomar tudo antes de você.

Eu poderia transformar aquela imagem em tudo que eu quisesse, ela me inspirou, verdade seja dita, as palavras saíram fáceis, os acordes se juntaram, mas ainda não me exibem, não como eu quero, talvez minha alma ainda não consiga sair em cordas, mas por enquanto permaneço aqui e comparo a lua a essa sensação pertinente que eu tenho de que nunca consigo dizer adeus à você. Você sempre se vai do nada, some, desaparece, não some de fato, mas evapora, e eu nunca sei se realmente vou te ver de novo. Como julgar essa sensação até agora eu não descobri, navego na minha mente, ela hoje está especialmente leve, está livre, pronta pra me jogar onde eu quiser, pronta pra me mostrar que a carne nada mais é que a carne, pronta pra me mostrar que o meu mundo não é nada mais nada menos que a minha cabeça.

Mas eu não vejo suas costas indo embora, não vejo o fim, não vejo o começo, não vejo o meio, vejo fragmentos, e você não pode dizer adeus a fragmentos, você não precisa, eu não preciso, o que eu faço é diferente, eu tento juntar todos esses fragmentos e tento montar uma história, mas o máximo que eu consigo é uma fantasia. Não me frustro, pra ser sincero histórias cronológicas demais não são histórias reais, são invenções, a vida não tem meio, não tem começo, não tem fim, como eu saberia qual é cada um desses, é uma coisa tão variável. De fato eu sou um enorme prédio, velho, desbotado, mas daqueles que você vê e tem carinho apenas pela presença, porque esteve lá o tempo todo, talvez você sinta falta quando aquele novo prédio espelhado surja e você possa ver seu reflexo, mas o fato é que sou justamento um prédio desbotado porque cada um pega uma pequena parte minha, pequenina, enorme...

Esqueça tudo o que eu já disse, não quero montar seus fragmentos, não pretendo nada, de verdade, a única coisa que me satisfaria seria justamente não ter que ter que te dizer o que seria, seria apenas por ser. Natural. Mas esconda-me onde você quiser, guarde-me, alimente-me, não sou mal, nem bom, sou um velho prédio, ou um prédio velho.
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Se alguém ainda lê o blog, dê um sinal, é tão chato escrever pra ninguém.