sábado, 9 de julho de 2011

O que poderia ser

Alguém tocou meu ombro hoje, me puxou de leve, não era estranho, mas não poderia chamar de um tão bem conhecido, alguém amigável. Me apontou, apontou ao céu, abri o som dos meus ouvidos pro mundo e segui a ponta do seu dedo que guiou meu olhar até a imagem da lua em eclipse, aparecendo aos poucos, se enchendo aos muitos. Senti uma vontade contrariada de me paralizar e admirá-la por quanto tempo eu pudesse continuar, mas verdade é que não pude, não porque realmente não poderia, mas porque no mundo onde eu vivo você não deve ficar parado, você deve andar, não, você deve correr, correr, corra garoto, corra, ou eles irão tomar tudo antes de você.

Eu poderia transformar aquela imagem em tudo que eu quisesse, ela me inspirou, verdade seja dita, as palavras saíram fáceis, os acordes se juntaram, mas ainda não me exibem, não como eu quero, talvez minha alma ainda não consiga sair em cordas, mas por enquanto permaneço aqui e comparo a lua a essa sensação pertinente que eu tenho de que nunca consigo dizer adeus à você. Você sempre se vai do nada, some, desaparece, não some de fato, mas evapora, e eu nunca sei se realmente vou te ver de novo. Como julgar essa sensação até agora eu não descobri, navego na minha mente, ela hoje está especialmente leve, está livre, pronta pra me jogar onde eu quiser, pronta pra me mostrar que a carne nada mais é que a carne, pronta pra me mostrar que o meu mundo não é nada mais nada menos que a minha cabeça.

Mas eu não vejo suas costas indo embora, não vejo o fim, não vejo o começo, não vejo o meio, vejo fragmentos, e você não pode dizer adeus a fragmentos, você não precisa, eu não preciso, o que eu faço é diferente, eu tento juntar todos esses fragmentos e tento montar uma história, mas o máximo que eu consigo é uma fantasia. Não me frustro, pra ser sincero histórias cronológicas demais não são histórias reais, são invenções, a vida não tem meio, não tem começo, não tem fim, como eu saberia qual é cada um desses, é uma coisa tão variável. De fato eu sou um enorme prédio, velho, desbotado, mas daqueles que você vê e tem carinho apenas pela presença, porque esteve lá o tempo todo, talvez você sinta falta quando aquele novo prédio espelhado surja e você possa ver seu reflexo, mas o fato é que sou justamento um prédio desbotado porque cada um pega uma pequena parte minha, pequenina, enorme...

Esqueça tudo o que eu já disse, não quero montar seus fragmentos, não pretendo nada, de verdade, a única coisa que me satisfaria seria justamente não ter que ter que te dizer o que seria, seria apenas por ser. Natural. Mas esconda-me onde você quiser, guarde-me, alimente-me, não sou mal, nem bom, sou um velho prédio, ou um prédio velho.
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Se alguém ainda lê o blog, dê um sinal, é tão chato escrever pra ninguém.

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