domingo, 19 de fevereiro de 2012

Fuga

Acho que não posso escapar essas horas. Elas são simplesmente aterrorizantes. Sinto canivetes de gelo me cortarem nessas últimas horas desse dia extremamente difícil de terminar. Não sei de onde vem a sensação, mas quando o ponteiro marca certa hora é como se absolutamente qualquer alma que estivesse pelo menos perto daqui simplesmente sumisse. Você continua a pensar que é assim mesmo, amanhã passa, mas é tão ruim encostar a cabeça num travesseiro tão arrumado e frio. O que mais eu posso dizer?

Nós não devemos nos arrepender de nada, ou que pelo menos seja do que fizermos. Que seja, que nosso peito inflame de dor, que nossa vida se queime nesse fogo inútil, mas o que mais é a vida se não atitudes? Já há um tempo tenho achado que minha conta de pensar tem passado da conta. Talvez eu tente me tornar um completo impulso. É tanta coisa que eu posso falar agora que fica difícil abrir a boca.

"Eu vou lembrar de você"

E porcaria do tempo passa enquanto não há absolutamente nada que eu posso fazer em relação, mas ei, eu posso pensar que valeu a pena, certo? Deus, ainda continuo pensando como se eu tivesse feito algo bem ferrado. Em breve você esquecerá. Preciso fugir um pouco, até logo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Galopes

Nós temos dezenas de frases feitas prontas pra serem lançadas em qualquer conversa, em qualquer conselho e ouvimos tantas. Raramente desperdiço as conversas que tenho, quando as tenho, as martelo, as simplifico, as complico, rodo-as na minha cabeça frase a frase. É extremamente decepcionante quando você encontra algo antes dito e depois não cumprido. Infelizmente, as opiniões mudam depressa demais hoje em dia, infelizmente nós somos todos idiotas sem identidade. Minha mente então insiste em me perguntar porque você segue assim.

É bom testar essas frases feitas, é bom seguir algumas, mas pelo visto elas quase nunca funcionam, são só frases que podem acontecer mais vezes que outras, nada além disso, talvez infelizmente ou quem sabe felizmente, elas não são regras. Queria acreditar tanto no que você me diz, ah, como eu queria, mas simplesmente não entra na minha cabeça nada do que você diz. A vida é uma droga, não é? Quem foi mesmo que disse que nós somos responsáveis por isso tudo?

Então cá estou eu de novo, pensando, martelando tudo que eu ouvi. Parece belo um quadro de longe, parece bonita a nossa utopia, entretanto, existe um fantasma do futuro que assombra todas as noites ele continua a dizer "Você não vai lugar algum" e eu me desando de lá pra cá sem bem entender o que aconteceu até hoje. Eu ainda juro que quis entender tudo, ainda tento seguir seus passos, mas eles ou ficaram longos ou curtos demais pra mim, sinto muito. Acho que chegam certos momentos que apenas uma coisa é válida: "Por que não tentar de tudo? Se você só vai se lembrar uma vez". Intoxicado pela sua fé eu tentei seguir, meus pedaços agora caem novamente. Tô cansado de ouvir você dizer o que tem pra dizer. Sejamos mais honestos, o fim tem se aproximado a galopes cada vez mais velozes.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O maquinário

O quarto é escuro. Não chove mais. As luz está apagada, mas não as de fora que invadem a janela. O frio é confortável, mas chega a incomodar. Há alguns dias ele se vê dessa forma, no mesmo horário, como se seu corpo e mente fossem parte de um sistema, um robô que possuem atividades pré-estabelecidas, mas que naquele determinado horário não são suficientes, quero dizer, o sistema esqueceu de preencher aquelas horas, ou aquele momento. O pequeno maquinário se engole de solidão. De questões, de angústias. Na sua pequena cabeça, ele sabe que deve permanecer conectado para cumprir os outros compromissos que se reproduzem como pragas em plantações sertanenses.

Entretanto, durante esse breve momento ele perde toda e qualquer noção. Não consegue compreender o objetivo de todas suas atividades, de todas as palavras que gasta, e muito menos o motivo de existir. Suas frágeis mãos se apertam uma contra a outra como se quisessem ajudá-lo sem terem chances para isso. Há algumas horas tudo parecia tão certo. Os detalhes antes não percebidos são agora analisados um a um, os minutos são contados, os pesamentos são revirados e revirados e revirados, nada é casual. Ele tenta olhar ao seu redor, quem sabe procurar por respostas, mas está no seu quarto, como sempre quis estar, ninguém ousaria entrar lá e nessa hora todas as outras máquinas já estão desativadas de qualquer forma. Ele pensa.

Seu desespero começa a consumi-lo, noite após noite, no mesmo período ocioso. Ele calcula as decisões, os momentos, os sim e os não que o levaram até ali. Será se não poderia ter deixado se levar? Por que eu não consigo sentir o cheiro de nada que me agrade? O que houve com meu coração? Por que a comida se tornou um fardo? Onde foi parar todo o meu entusiasmo com o nosso próximo compromisso? Cansado de se perguntar, o pequeno maquinário, decide procurar por uma solução. A mais clara, é claro, logo surge a sua frente, "Por que não me desativar?" ele pensa. É porém, em poucos minutos que essa solução não o satisfaz, só produziria um vácuo enorme em todas as outras milhares de perguntas que ele ainda possui. O seu sistema é frágil, pequeno, desatualizado, todavia, novo.

Cansado de tanto pensar ele descansa a cabeça. Se vê com todos as outras máquinas em tantas outras ocasiões. Dentro de si algo aperta, como se ele fosse ser tragado para dentro de si, como se um buraco negro estivesse prestes a sugá-lo. Ele não sabe exatamente de onde pode vir tal força, mas é inevitável. O pequeno maquinário chora, talvez não exatamente por angústia, mas sim pra provar a si mesmo que ainda pode sentir alguma coisa. Ele relê todos os seus compromissos, todo o espaço vazio dentro si agora parece se multiplicar cada vez mais, em breve tudo o que ele sentirá será o vazio. Enquanto assiste o sol beijar as águas e o céu azular ele pensa: "Eu não queria ter afastado tanto quem algum dia tentou se aproximar de mim" enquanto o sol melancolicamente, como se adivinhando, se despede dele com um adeus prolongado, enquanto o máximo de companhia que o pequeno maquinário possui são suas curtas pernas pressionadas contra o seu peito. Ele está só, condenado a solidão pela natureza das coisas, deixando em paz aqueles que ele não quis incomodar, fazendo-os, mesmo sem querer, esquecê-lo.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sinto falta da sua cor, sinto tanta falta

Por que motivo eu sempre acabo pensando na mesma coisa? Tá bom, eu já sei que é culpa minha. Mas eu não posso evitar, melhor dizendo, não consigo evitar. Não queria que você pensasse que eu estou triste. Não queria que você se preocupasse. Acho que é só como eu aprendi a suportar o insuportável pra mim. Escondo tudo num canto em mim mesmo, abro raramente, porque sei que se abrir as coisas não vão ficar bem. Tentei entender como acabei assim ainda hoje. É provavelmente pro melhor, não é? É, é bom pensar essas coisas.

Queria ir lá fora e ter a sua certeza comigo. Já tô tão cansado dessa rotina moribunda. Já tô tão completo desses dilúvios. E não me vem o sono. Nem me vem a vontade. Só me vem a consciência. Maldita certas vezes. Se eu tivesse uma praia congelada. Se a minha casa não tivesse se destruído. Se tivesse apenas mais uma chance. Mais um dia. Não, por favor, não fale em termos deprimentes, de pena, ou de depressão, não. Esqueça todos os clichês. Apenas sinta o que bate dentro de você. O mundo não precisa mudar, nem ser melhor, ou frio ou quente. Não chore. Não agora.



Por favor, pense em mim. Por favor, pense em mim.

Tenho a trilha sonora perfeita pra esse outono chuvoso. Sabe o que seria bom? Um estrada molhada, que choveu recentemente, cercada de floresta fechada de um lado ao outro, com milhares de folhas amarelas espalhadas pelo chão, cobertas pela água fria da chuva passada. Eu poderia simplesmente inspirar tudo pra dentro de mim. Ouvir tudo que eu quisesse. E não iria querer abrir os olhos, por incrível que pareça, eu apenas sentiria. Eu tocaria, ouviria, sentiria afinal. Eu caminharia. De olhos fechados imaginando todos os personagens que eu queria que estivessem ao meu lado, conversando entre si, sorrindo enquanto eu apenas ouvia e pensava: "Definitivamente, não estou só".



Acho que demorarei no meu passeio, então...

domingo, 29 de janeiro de 2012

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Acho que existem bem poucos modos de encarar a vida. Talvez apenas dois. Um é a mente ou outro o coração. Ou talvez três, se algumas pessoas conseguirem agir com o coração e a mente ao mesmo tempo. Você pode oscilar entre eles, também é recomendável. Quanto a mim, não sei ao certo. Dependendo do momento eu estou em uma dessas mãos. Mas definitivamente eu não o tipo que consegue mesclar esses modos. Muito juízo ou muito sentimento.

Eu queria sim poder te dizer que vai dar tudo certo. Que juntos nós somos fortes e separados fracos. E é verdade, mas se eu dissesse arruinaria toda e qualquer pureza dentro de você. Pular um abismo de pára-quedas não é arriscar a vida. Arriscar a vida é acordar todos os dias. Nós assim fazemos. Não sei porque. Sigo nessa missão de me imprimir em algum lugar, mas ironicamente a única coisa que eu consigo é exatamente o oposto, o que é deprimente.

"Eu? Eu tô indo bem" eu escuto você dizer, enquanto guardo meus desejos. Me molho com a doce ilusão. Sonho porque é o que tenho. Me escondo da realidade porque é onde eu não posso estar. Talvez seja assim que tudo deva ser. Três parágrafos inúteis, velhos, repetitivos, sobre como nada está no lugar correto. Eu deveria agradecer por todas as lições? Ou não?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Abismo

Existe alguém aí que também pensa sobre as coisas que fazemos e parecem em vão? Sobre o tanto que construímos. Sobre o tanto que desaba. As vezes parece que eu gosto de me machucar, talvez com algumas pessoas também seja assim. Eu me pergunto se todo meu escrever é simplesmente porque eu não tenho mais nada. Queria, ah, como eu queria, me importar menos. Queria comer essa carne sem culpa, mas não, ei, não, esse não sou eu. 24 horas podem mudar tanta coisa ou simplesmente nada.

Acho que consigo sugar um pouco das esperanças que vejo por aí, talvez seja assim. Bem, nós prometemos, nós acreditamos, cremos tanto, fazemos e algum tempo depois tudo parece tão diferente, tão em vão. Pudera eu não ter o tempo de escrever essas palavras. A chance de não precisar fazê-lo. Pudera eu descansar...

Agora eu encontrei aqueles dias escorregando através da solidão
Agora vejo que isso não me ajuda a entender
Como a dor se tornou do tamanho do mundo
Como eu percebi
Que a vida é perder amigos

Eu tento ver através dessas folhas de poesia de merda
E enxergar o que sobrou
Veja, eu estou triste porque estou sozinho nesse mundo e
Escrever não parece ajudar

Ei, talvez essa seja, como eu suspeitei, a chave. Sem dúvida, o epílogo não natural, mas acolhedor.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Me desculpo por não controlar tudo o que nós poderíamos se o tempo tivesse nos ajudado

Sabe algumas pessoas adoram o passado. Elas simplesmente gostam de ouvir a música que estavam ouvindo naquele dia ou naquela época. Elas simplesmente gostam de sentir o perfume que fazia tão bem ou que era tão característico. Alguns podem dizer que não é saudável viver assim, e daí? Certos momentos eu consigo perfeitamente sorrir em apenas lembrar da luz do sol invadindo as suas pupilas enquanto podia ver cada detalhe. Por que me importaria de lembrar e lembrar e pensar mais uma vez? Alguns podem dizer que é triste, medíocre, e talvez seja mesmo. Mas ainda assim é reconfortante saber, lembrar, pensar os únicos momentos em que você pôde fechar os olhos.

Costumo guardar momentos, frames, fotos do que passei ou vi. O único problema, conforme já disse antes é que você vai perdendo, mas sempre tem aquele flash que nunca se apaga. O cheiro é resistente e o sentimento ao ouvir a música, esse sim, é o mais forte de todos. Então acho que poderia ser isso. Eu não fui capaz de te raptar, de te roubar simplesmente, de simplesmente correr pra uma floresta amarela, onde todas as folhas caíssem sobre nós enquanto morreríamos da nossa própria doença, livres do mundo. Não, eu sei, mas eu posso pensar como se assim tivesse feito, momentos antes de o travesseiro engolir minha mente.


Esperando pelo pôr-do-sol
Os sons da cidade trespassando as árvores
Pousando como poeira

A vida parece ter sido criada pra um objetivo que não conseguimos alcançar. E é como se os felizes fossem apenas aqueles que mais conseguem se conformar com isso. Ou talvez isso seja apenas pessimismo demais. Quem sabe, né? Se eu pudesse tocar de novo a sua pele, se eu pudesse sentir seu perfume, se eu simplesmente pudesse. Imagino a vida daqui alguns anos e é tudo tão distante. Acho que a paz definitivamente descansa em uma selva. Eu consigo ainda com certa nitidez lembrar o seu sorriso, e não, eu não estou olhando pros seus dentes, eu gosto dos seus olhos se movendo enquanto a sua boca se abre. Sinto tanto não ter mais de você. Espero que ao menos leia em algum dia que lembre. Esse poderia não ser o nosso fim, certo?