Venha cá e jogue esses sorrisos fora, hoje. Gaste-os com a pouca força que te resta. Não ligue pra muita coisa, melhor, desligue muita coisa. Eles não sabem de nada. Sinto falta do velho positivismo, não o arcaico, mas o positivo de fato. Dias tão amargos e cinzas cansam bastante. É tanta angústia, tanta agonia que você esquece que tem mais coisas a fazer do que remoer-se, pensar, calar-se, enfim, trancar-se.
O sol hoje está impiedoso, sim, como todos os dias são, mas você consegue se lembrar daquelas velhas ruas desertas que só eram preenchidas pelos nossos risos? Se lembra de quando um quarteirão era suficiente pra nós? Vejo ruas muito maiores agora, com muito mais pessoas, e por incrível que pareça, elas agora parecem bem mais desertas que antes. Nós tínhamos nossas missões e dela reclamávamos pra depois acabarmos sorrindo. A carne que o fogo salpicava, o álcool que evaporava, a água que molhava, as falas que eram desperdiçadas, o nosso jogo que não acabava. Agora tudo é maior por fora, menor por dentro.
Não falo de saudades, não falo de sentimentos passados, falo apenas daquela música que você ouve e te faz querer estar na proa de um navio sob a luz de um sol escaldante sentindo apenas o que é possível sentir na hora: o vento contornar todo o seu corpo.
Quando nós estivermos mais velhos ainda que hoje, agarre-me e pule comigo desse penhasco enquanto pudermos mostrar os dentes e sorrir. Cole-me. Grude-me. Não deixe que eu conte nossa história nunca, nunca por precisão. Não faremos memórias, nem lembranças, faremos apenas o agora. Quando estivermos mais velhos não deixemos que o mundo nos molde. Moldemos o mundo. Nada precisa fazer sentido. O sol ainda nos perseguirá, tenha certeza da nossa luz.
Vamos mudar nossas estradas, e persegui-los por aí
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